The Japan Times - Violência no futebol da Colômbia abre diálogo entre torcedores e governo

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Violência no futebol da Colômbia abre diálogo entre torcedores e governo
Violência no futebol da Colômbia abre diálogo entre torcedores e governo / foto: Daniel Munoz - AFP

Violência no futebol da Colômbia abre diálogo entre torcedores e governo

O jogo acabou em um enterro. William Gallego se pergunta por que seu filho morreu em uma briga de torcedores na Colômbia, uma queixa que já chegou aos ouvidos do governo, que abriu diálogo com as torcidas organizadas.

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Alejandro Gallego, de 25 anos, morreu na madrugada do dia 30 de abril em uma briga entre torcedores dos rivais Atlético Nacional e Independiente Medellín.

"É o maior absurdo que pode acontecer, que estejam matando os garotos por causa de umas bandeiras (...) o futebol não é para as pessoas se matarem", disse William em uma conversa com a AFP depois do enterro.

A briga em uma rua de Medellín vitimou outras pessoas além de Alejandro. Duas semanas antes, o estádio Atanasio Girardot foi palco de uma batalha entre membros da principal torcida organizada do Atlético Nacional e policiais.

E os episódios de violência seguem ocorrendo por todo o país:

Ameaçados pelos seus próprios torcedores, furiosos devido aos maus resultados, o Deportivo Cali reforçou a escolta de sua delegação. Na cidade de Ibagué, um torcedor do Tolima agrediu pelas costas um jogador do Millonarios em pleno campo. E em Manizales, torcedores do Once Caldas invadiram o gramado.

Diante da violência, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, abriu um diálogo incomum. O primeiro esquerdista a chegar ao poder levantou a bandeira da juventude em campanha e construiu uma relação inédita com os torcedores, afastados dos governos anteriores.

- "Pensamento diferente" -

O investigador Alirio Amaya se reuniu com líderes das organizadas do Junior de Barranquilla e do Unión Magdalena de Santa Marta, rivalizadas desde uma briga que deixou um morto em 2022.

Intermediário do encontro entre os torcedores na Defensoria do Povo, órgão estatal que protege os direitos humanos, Amaya defende a "compreensão de dinâmicas de violência" no futebol, próprias de um país permeado por quase seis décadas de conflito armado.

"Lamentavelmente, esta rejeição aos comportamentos [das organizadas] vem se transformando em uma rejeição a sua existência nos estádios. Parece que as torcidas populares não merecem nada", se queixa Amaya à AFP. "O governo mostrou que tem um pensamento diferente", acrescenta.

Em 2022, esses mesmos eternos rivais se uniram e apoiaram abertamente a candidatura de Petro.

"Foram diversos tipos de violência que tivemos que apaziguar para poder confluir" em campanha, explica Kevany de Arco, líder de uma torcida popular do Junior. "Em termos nacionais, as organizadas se voltaram a apoiar" o atual presidente, acrescenta a jovem de 26 anos.

Ao lado de outros fanáticos tatuados com escudos do Junior, De Arco pede que o Estado reconheça que as organizadas têm "sua própria cultura", "território" e "linguagem".

No total, a Colômbia já registrou mais de 350 mortes associadas ao futebol, segundo estudos acadêmicos, na falta de números oficiais.

- "Rota de diálogo" -

Pela primeira vez na história, o governo organizou um encontro entre líderes das principais torcidas e autoridades, ignorando as vozes que pediam pulso firme.

"É com eles que precisamos falar (...) eles podem nos ajudar a resolver [a situação]. Sem o seu compromisso, agravam o problema", disse durante o encontro em Bogotá o ministro do Interior da Colômbia, Luis Fernando Velasco, encarregado de traçar "uma rota de diálogo" com os torcedores.

Na reunião extraordinária, o governo ganhou força contra a Dimayor, organizadora do Campeonato Colombiano, que pedia medidas "repressivas" e "coercitivas", como a instalação de grades metálicas para separar as arquibancadas do campo. Seu presidente, Fernando Jaramillo, argumenta que a prática já funcionou em outros países.

Velasco descartou esse tipo de restrição e atribuiu os recentes incidentes a "tensões sociais" que o Estado deve atender.

Essa posição tem precedentes: como prefeito de Bogotá (2012-2015), Petro abriu as portas de seu governo para os 'barra brava', apesar das críticas, e como senador opositor, os convocou às ruas durante os protestos de 2021 contra seu antecessor, Iván Duque (2018-2022).

O atual presidente é inclusive a favor de as torcidas organizadas terem uma "porcentagem de propriedade" dos clubes.

A nova visão do governo sobre as torcidas já tem críticos. O procurador-geral Francisco Barbosa qualificou de "atos de terrorismo urbano" os incidentes recentes e apontou que houve "omissão" das autoridades para atender os episódios violentos, os quais associa ao novo período eleitoral que está por vir.

"É curioso que fatos desse nível comecem a ser apresentados quando estamos perto das eleições de outubro", que vão definir prefeitos e governadores da Colômbia, disse o procurador, um dos maiores críticos do governo.

S.Ogawa--JT